Mesmo o suicídio sendo um ato individual e solitário, pode ser considerado como o tipo de morte mais dolorida para as famílias lidarem e seus efeitos podem ser devastadores. (JAQUES, 2000; CEREL et al. 2008)

Se você está lendo essa página, talvez seja porque alguém querido se matou… E nós sentimos muito!

Sabemos o quanto a dor do suicídio pode ser devastadora, além de deixar para trás muitos dúvidas e uma gama de questões sem respostas e infindáveis. O famoso “E se eu tivesse…” vem à tona e um misto de descrença, dor, raiva e culpa pode emergir de maneira perturbadora e confusa. Por isso, é muito comum ouvirmos que os sobreviventes, após o suicídio, ficaram sem chão, teto, parede! É como se um tsunami invadisse a vida daqueles que ficam, tirando tudo do lugar e mudando tudo que era antes.

É importante que você saiba que a pessoa não se matou por sua causa ou por algo que eventualmente tenha feito, falado ou deixado de fazer. O suicídio tem muitas causas (leia O suicídio e sua prevenção, que fala um pouco sobre esse fenômeno trágico e violento).

Nada é igual, existe uma vida antes e uma vida depois do suicídio.

Muitas vezes, em vez de receber simpatia e compaixão dos outros, você acumula dúvidas, julgamentos, culpa, exclusão e impaciência.

Você pode estar sentindo insônia, agitação, fadiga, dificuldades para lembrar das coisas, tonturas, palpitações, tremores, fraqueza, boca seca, perda ou aumento do apetite. Além disso, você pode continuar a procurar a pessoa por onde ela andava, sentir-se angustiada e pensar no que aconteceu, o tempo todo, não conseguir se concentrar, questionar a morte e o sentido da vida.

Você pode querer se isolar, tentar desesperadamente saber o motivo pelo qual a pessoa se matou ou buscar um culpado para o que aconteceu, começar a ter problemas com seu companheiro(a) e filhos, não querer mais ir à escola ou ao trabalho, aumentar o consumo de álcool e/ou drogas, sentir-se abandonado… E isso faz parte da maneira como está reagindo ao impacto do suicídio, pois tudo o que descrevemos faz parte do luto de sobreviventes.

Não existe tempo mínimo, certo ou máximo do luto ser vivido, ele geralmente leva anos até passar (e muitas vezes nem passa), mas a dor e o impacto que ele tem na sua vida e na vida dos que estão a sua volta é que podem oferecer sinais da maneira como andam as coisas com você.

A duração e a intensidade do que está acontecendo com você é que dirão se precisará ou não de ajuda profissional.

O tempo e a fé são os maiores aliados no luto. Se você conseguir, escolha pessoas que possam te ajudar: amigos, colegas, familiares, sacerdotes e professores podem ser valiosas fontes de ajuda. Não hesite em procurar ajuda!

Conversar com pessoas que já passaram pelo que você passou pode ajudar muito. Procure na sua região se existe algum serviço de apoio a sobreviventes do suicídio. Nós do Vita Alere, temos um grupo que funciona desde 2013, ele se chama, Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio, veja mais informações na página GRUPOS DE SOBREVIVENTES.

Crianças e adolescentes tendem a demonstrar o luto de formas diferentes dos adultos. Veja, a seguir.

O que pode ajudar as crianças e adolescentes

  • Peça ajuda a amigos ou parentes para ter um tempo para vivenciar seu luto.
  • Crianças podem se preocupar que o outro adulto o deixará também. É importante tranquilizá-las sobre esse assunto, comunicar ao sair, assegurando-as quando voltará.
  • Não é necessário esconder o luto das crianças. Elas perceberão que é natural chorar e expressar como se sentem.
  • Incentive-as a falar sobre seus medos e preocupações. Deixe-as chorar. Não apresse o luto delas.
  • Não esconda a tristeza delas, pois podem pensar que você não se importava com a pessoa que morreu.
  • É importante deixar as crianças saberem que elas não têm de lamentar o tempo todo. Elas podem brincar e jogar.
  • Crianças podem se sentir muito irritadas depois de um suicídio. Atividades físicas, como chutar bola, correr, rasgar revistas, podem ajudá-las a canalizar a raiva.
  • Outras sugestões para se fazer com a criança: “caixa de memória” ou página de recados, contendo fotografias, desenhos, cartas, poemas, histórias e lembranças da pessoa morta.
  • Tranquilize a criança de que o que sente não sentirá para sempre. Pode demorar um tempo, mas ela vai se sentir melhor e sempre será amada e cuidada.
  • Ao falar sobre a morte, encoraje perguntas, compartilhe sentimentos e conforte a criança.
  • Se a criança estiver com muitos problemas de enfrentamento, encaminhe-a para um profissional.

Os direitos dos sobreviventes do suicídio.

  • Enlutar-se a seu modo e conforme o tempo que for necessário.
  • Saber a verdade sobre o suicídio, ver o corpo do falecido e organizar o funeral, considerando suas necessidades, ideias e rituais.
  • Considerar o suicídio como resultante de causas inter-relacionadas que provocaram uma dor insuportável na pessoa que cometeu o suicídio: o suicídio não foi meramente uma escolha.
  • Viver plenamente, com alegria e tristeza, livre do estigma ou julgamento.
  • Respeitar sua privacidade e a do morto.
  • Receber apoio de parentes, amigos, colegas e outros sobreviventes, assim como de profissionais habilitados, com o conhecimento e discernimento da dinâmica do processo do luto, dos potenciais fatores de risco e suas consequências.
  • Entrar em contato com o médico ou cuidador (se houve) que acompanhou a pessoa que cometeu o suicídio.
  • Não ser considerado como um candidato ao suicídio ou como um doente mental.
  • Compartilhar sua experiência com outros sobreviventes, cuidadores e com todos que buscam a ampliação do conhecimento acerca do suicídio e do luto por suicídio.
  • Não se exigir ser a mesma pessoa de antes: há uma maneira de se viver antes do suicídio e outra depois dele.

(ANDRIESSEN, 2004, p.3, tradução nossa)